Capela no campus da ABIN
[projeto] Brasília, DF Ano do projeto: 2006 Autoria: Thiago de Andrade Colaboradores: Felipe Berutti Monteserrat, Joana França, Ricardo Theodoro e Virginia Manfrinato Memória: Em 2006, desenvolvemos uma série de estudos de viabilidade e locação para alguns equipamentos e intervenções em edifícios existentes na sede da Abin, em Brasília. O estudo deveria ser rápido e demonstrar possibilidades locacionais e programáticas para planejamentos futuros na ocupação do campus do órgão, situado em área de grandes dimensões na capital federal. Assim, desenvolvemos estudos para uma nova portaria, para edificações de apoio na área esportiva, para hall do edifício principal, para reforma do auditório central e para uma capela em uma porção mais bucólica e afastada. Mais próximo à natureza do cerrado, o espaço circundante deveria ser reconstituído como bosque. Por isso, em tempos de pandemia, redesenhamos alguns aspectos desse projeto que nos parece exemplar e ilustrativo de diversos anseios e perseguições narrativas de nossa produção arquitetônica e espacial. A implantação da capela baseou-se, então, na articulação do fim da área asfaltada com o descampado que deveria ser revegetado, criando, por sua própria presença, um dos limites edificados do campus. Disso nasce a ideia de que ela deveria configurar-se como cobertura sem paredes, ora portal e janela para esse novo bosque, ora abrigo para a introspecção. Propusemos uma cúpula suspensa sobre pilares robustos, brutos, feitos de pedra escura, em basalto ou ardósia pretos. A cúpula determina a geometria quadrada e sua curvatura assume uma função estrutural ativa criando-se, na prática, paraboloides de dupla curvatura que convergem para o centro do quadrado. Essa estrutura foi pensada para ser executada em alvenaria armada, como nos ensinou Eladio Dieste, recoberta por argamassa armada. A cúpula descarrega em vigas de aço de seção “I”, que por sua vez apoiam-se em pilares-parede de pedras talhadas na própria pedreira, mantendo suas imperfeições e marcas de sua extração. A planta quadrada, portanto, sem direção privilegiada, implantada com adro lateral e campanário à sua frente, reconfigura os ditames históricos das implantações tradicionais de templos cristãos. De forma consciente, mantém-se a cruz e o altar voltados para o leste. Assim, o eixo de circulação e o movimento dos fiéis reconstitui o eixo leste-oeste da capela. A nave e locais de assentos dos fiéis ficam ligeiramente descentralizados do quadrado. A cruz de aço solta no espaço elevado do altar, recupera o eixo central da planta quadrada, alinhando-se ao cume da cúpula de tijolos. O batistério avança sobre o espelho d´água que circunda dois lados da capela, entre dois pilares rotacionados para o vazio da via principal, anunciando-se como fachada principal. Uma ilha simples, escultórica, que abriga o único elemento volumétrico: uma bacia esculpida no cilindro de concreto armado. O Campanário é feito com blocos maciços de pedra incrustrados sobre fundações e rótula de aço que o torna ligeiramente afastado do solo. Três blocos maciços da mesma pedra que faz os pilares, encimados por um bloco vazado, configuram a torre sineira. O elemento está ligeiramente rotacionado, ajustando-se aos pontos cardeais reais geográficos. Os sucessivos arranjos entre tradição e surpresa, instabilidade e solidez, imprevisto e serenidade, marcam as escolhas sencientes desse projeto. Reitera, assim, a constante busca de se criar uma segunda natureza mais carregada de significado ao lugar, atitude que marca nosso atelier. |